quarta-feira, 17 de março de 2010

Funeral Divertido | Liudmila Ulítskaia

«Um calor terrível, o ar cem por cento saturado de humidade. Era como se toda a gigantesca cidade, com os seus prédios sobre-humanos, os parques maravilhosos, as pessoas e os cães multicores, tivesse chegado ao ponto de mudança de estado e, dentro em pouco, os corpos meio liquefeitos começassem a flutuar no caldo do ar.»

Em pleno Verão de 1991, num desarrumado estúdio de Nova Iorque, reúne-se um grupo de personagens dispostos a acompanhar Álik, um pintor judeu russo emigrado, nos últimos dias da sua vida. É talvez a morte anunciada mais divertida de toda a literatura, pois é, ao mesmo tempo, um hino à vida. Rodeado de amigos, antigas amantes e da vizinha Joyka, Álik deseja que a festa continue, enquanto Ninka, a sua mulher, pensa apenas em salvar-lhe a alma.
Há duas semanas que Álik voltou do hospital, dizendo aos médicos que prefere morrer em casa. Deitado num sofá, «tão pequeno e jovem como se fosse filho de si próprio», Álik discute pintura com a pequena Maika.
Entretanto, um padre ortodoxo e um rabino sucedem-se à cabeceira do moribundo e o encontro das duas crenças torna-se um episódio divertido, mostrando que, para Ulítskaia, as dúvidas metafísicas sobre a morte e a religião não são incompatíveis com o humor e a literatura. 

quarta-feira, 10 de março de 2010

O Caminhante Solitário | W.G. Sebald


Através de seis retratos inesquecíveis e ricamente ilustrados de Johann Peter Hebel, Jean-Jacques Rousseau, Eduard Mörike, Gottfried Keller, Robert Walser e do pintor Jan Peter Tripp, W. G. Sebald evoca as suas próprias visões, os seus próprios fantasmas, ao mesmo tempo que presta homenagem a artistas cuja vida e obra tanto o intrigaram como o iniciaram. Celebra a seu modo a perseverança, os sacrifícios e o génio com que reinventaram, apesar de tudo, a beleza e a utopia.
O Caminhante Solitário convida também a descobrir a paisagem pré-alpina, região da qual são oriundos todos os artistas da colectânea, incluindo o próprio W. G. Sebald que visita, uns anos antes da sua morte, as terras da sua infância.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

The Album Leaf | A Chorus of Storytellers


Disco comprado ontem após o grande concerto dos The Album Leaf no Santiago Alquimista, edição da SubPop, um duplo vinil com um dos discos com a folha em relevo, a comprar...

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Saber Perder | David Trueba


Sylvia cumpre dezasseis anos no dia em que começa este romance. Para celebrar o aniversário, organiza uma falsa festa que tem só um convidado. Horas depois, sofre um acidente que a levará a descobrir a complexa intensidade da vida adulta. Lorenzo, pai de Sylvia, é um homem divorciado que tenta esconder o vazio que o abandono da mulher e o fracasso no trabalho deixaram na sua vida. O desencanto e a frustração levam-no a ultrapassar fronteiras que nunca julgara possíveis. Ariel é um jovem jogador de futebol que deixa Buenos Aires para jogar numa equipa espanhola. Esmagado a princípio pelo frio anonimato da grande cidade, não tardará a ouvir o estádio entoar o seu nome em êxtase. Leandro, velho reformado, está numa fase da vida em que assiste a mais enterros do que nascimentos. Mas descobre para sua surpresa que ainda está em idade de ser tocado por uma fascinante obsessão.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Down By Law | Jim Jarmusch

"Down by Law", «Um disc-jockey desempregado (Tom Waits), um proxeneta de meia-tijela  (John Lurie) e um turista italiano excêntrico e optimista ( Roberto Benigni ) conhecem-se no espaço fechado da cela de uma cadeia. Sem especificar quando é que se desenrola, a história passa-se, de forma mais ou menos abstrata, em New Orleans e nos pântanos das redondezas do Louisiana, um local que Jim Jarmusch nunca visitara antes de terminar a escrita do guião. Nas  palavras do realizador, o filme poderia caracterizar-se como tendo um estilo de "comédia negra neo-beat", com uma narrativa que aceita abertamente as convenções e uma atmosfera que é parte pesadelo, parte conto de fadas. Como diria Jarmusch, "o mundo é triste e belo". »

sábado, 6 de fevereiro de 2010

A morte de Bunny Munru | Nick Cave



“ESTOU LIXADO”
pensa Bunny Munro, num súbito momento de autoconsciência reservado a quem está prestes a morrer.
Depois do suicídio da mulher, Bunny Munro, caixeiro-viajante, parte com o filho numa viagem pela costa sul de Inglaterra e cedo descobre que tem os dias contados.
Mais do que para vender cosméticos, Bunny viaja em busca da sua alma.

Com um enredo alucinante, este romance é também uma fábula mordaz e sincera dos nossos tempos. Vibra com a mesma energia que fez de Cave um dos autores de letras mais respeitados do mundo.

“Se juntarmos Cormac McCarthy, Franz Kafka e Benny Bill numa estalagem à beira-mar, em Brighton, o resultado talvez seja A Morte de Bunny Munro. Este romance destaca-se como a obra de um dos melhores contadores de histórias dos nossos tempos; uma leitura compulsiva marcada pelo misto de horror e humanidade tão próprios de Nick Cave.”

IRVINE WELSH

“Garanhão, vendedor, cadáver…
Bunny Munro não é um qualquer, mas todos devem ler este livro.
Entre lágrimas e gargalhadas.”

DAVID PEACE

Quem ama,odeia | Silvina Ocampo & Adolfo Bioy Casares


“Quem Ama, Odeia” resulta da colaboração entre dois escritores argentinos que partilharam, durante muitos anos, a escrita, a vida e o amor. Silvina Ocampo e Adolfo Bioy Casares deixaram-nos durante a década de 90, mas não sem antes serem reconhecidos e aclamados pela crítica. Casares recebeu mesmo o Prémio Cervantes de Literatura em 1990, nove anos antes de morrer.

No centro desta trama, encontramos Humberto Huberman, que decidiu passar uns tempos em merecido descanso num hotel reservado em Bosque del Mar. No entanto, em vez da tão desejada paz, vê-se envolto num drama policial. Um dos hóspedes é assassinado e outro desaparece misteriosamente. Como seria de prever, todos os que se encontram no hotel, são agora suspeitos. Uma tempestade de areia e ventos fortes isola e fragiliza ainda mais os envolvidos. Ninguém pode sair dali, uma vez que se encontram numa perigosa zona de sapal povoado de caranguejos. O mistério adensa-se à medida que os sentimentos de amor, paixão, ódio, inveja e vingança revelam os medos de cada um.

A Oficina do Livro publicou recentemente em Portugal esta história policial que explora os espaços mais recônditos da personalidade e dos sentimentos humanos. O livro data de 1946 mas permanece actual, pelo que deveria constar em qualquer biblioteca. A leitura revelar-se-á empolgante com todas as mudanças de perspectiva relativamente à resolução dos crimes. A escrita hábil e cuidada, a complexidade das personagens e o ambiente tenso proporcionado pela combinação de factores da própria natureza irão, certamente, cativar o leitor da primeira à última página. E, quando se der conta, já esta história fascinante e subtil terá terminado.

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Silviana Ocampo e Adolfo Bioy Casares

Quem Ama, Odeia

Oficina do Livro